Limão com Sal
Estreando nosso blog,Laura Maria tem 24 anos e é natural de Bandeirantes, Paraná, mas mora em São Paulo já a um bom tempo. Cursando Engenharia Ambiental e Urbana na Universidade Federal do ABC, a paranaense nos conta agora um pouco mais sobre sua história íntima e precoce com a arte, seus processos criativos e inspirações.
Esquadrinhando
Quadrinhos: De onde surgiu a ideia de criar a página Limão com Sal?
Laura Maria: A ideia da
pagina veio de um monte de coisas engasgadas. Eu estava passando por um momento
difícil na vida: tinha perdido meu pai e em seguida uma amiga muito próxima,
quando eu sofri um acidente de carro. Isso tudo foi seguido por uma sequência
de decepções amorosas. Então quis mandar umas indiretas para o mundo, sobre
como eu me sentia miserável e pedante. Então, fui fazendo os desenhos e
postando. Pelo jeito muita gente se identificava com essas coisas porque a
página foi crescendo.
EQ: Você já
desenhava antes, ou isso foi algo que surgiu com o tempo? Como se desenvolveu
esse seu contato com a arte?
LM: Meu contato
inicial com a arte foi logo na infância. Minha mãe é artista e professora de
artes, então aprendi muito cedo sobre movimentos artísticos e sobre história da
arte. A técnica foi se
desenvolvendo devagarzinho e com tempo. Ás
vezes minha mãe me dava uns toques e ás vezes eu procurava outras referências.
EQ: A maioria
dos seus quadrinhos falam sobre o amor, a vida e suas dores e delícias. Você
busca inspiração na sua vida pessoal para suas produções?
LM: Com certeza
grande parte do material que eu uso pra fazer as tirinhas vem da minha vida
pessoal, mas também tem muita coisa sobre as pessoas que me cercam e a relação
entre elas e eu. Quase todos os quadrinhos tem um cunho que parece ser ligado
ao amor romântico, mas tem vezes que a inspiração vem de coisas entre eu e meu
irmão, entre eu e minha mãe e assim por diante.
EQ: Como
acontece normalmente seu processo criativo? Como você organiza suas ideias e
depois as transfere para o papel?
LM: Eu tenho
um caderninho que levo sempre comigo. Se não estou com ele escrevo no caderno
da faculdade mesmo. Quando tenho uma linha de raciocínio que faz um leve
sentido eu já anoto pra não perder a ideia. Geralmente as ideias vêm quando eu
estou no ônibus, no trem, na privada, nesses momentos de ócio que a cabeça fica
vagando, sabe? Quando eu tenho uma discussão ou me acontece algo que vai virar
uma tirinha eu costumo não escrever nada na hora. Deixo os sentimentos se
organizarem primeiro. Então, quando estão prontos, eles vêm na minha mente.
EQ:
Como é o processo produtivo? Quais são suas técnicas e materiais usados na
produção?
LM:
Primeiro vai tudo para esse caderno de ideias. Ás vezes eu já tenho noção do
desenho, dai já faço um esboço na hora pra não esquecer, mas ás vezes o desenho
só vem bem depois. Então, quando eu chego em casa e tenho um tempo pra isso eu
coloco o rascunho em uma folha de aquarela (eu uso papel 300g 100% algodão em
tamanho A5), prendo a folha na escrivaninha e faço a primeira camada de
aquarela. Jogo geralmente as cores de fundo primeiro e tento deixar bem solto.
Depois faço os personagens e por último uso uma caneta nanquim para escrever o
texto e fazer a finalização do desenho.
EQ:
Como é a recepção e a visibilidade do seu trabalho perante a sociedade? Você
sente dificuldades nessa área?
LM:
Geralmente as pessoas me recebem bem. Costuma ser um público apaixonado e sem
pedras na mão. Mas se houver algum erro de português, por exemplo, sempre tem alguém
para corrigir com um intuito de humilhar. Falam coisas como "Você não sabe
escrever, não terminou a escola, mimimi". Enfim, nem sempre dá tempo de alguém
revisar meu texto e como eu sou dislexa, a maioria dessas coisas passam despercebidas.
Mas eu já aprendi a lidar com essas situações na adolescência, então só
agradeço a observação e sigo com a vida. Não é o fim do mundo.
EQ:
oque significa fazer quadrinhos pra você?
LM:
Os quadrinhos significam que talvez eu seja boa em algo. Não em fazer
quadrinhos necessariamente, mas em me comunicar com as pessoas e criar uma
representação para as coisas que a gente sente. É bom sentir que tem gente que
gosta das coisas que você faz. Isso já não é só mais um passatempo para mim,
virou algo muito maior: um exercício, um traço da minha personalidade. Tem uma
frase que eu ouvi em uma música, que acho que descreve isso de uma forma melhor:
"Eu só pus vida nisso, pois isso pôs vida em mim".
Mariana Carneiro.
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